Completados 65 anos de existência, o Bunkyo que, em 1955, nasceu como Sociedade Paulista de Cultura Japonesa, no ano seguinte registrava em seu quadro social, 415 sócio-fundadores.
Desses personagens e testemunhas dos primórdios do Bunkyo, dois fundadores remanescentes foram homenageados durante a comemoração online realizada no dia 12 de dezembro último. Também, seus depoimentos e currículo foram publicados na edição 143 da revista Bunkyo News-Colonia.
A seguir, trazemos o currículo de Masayuki Mizuno (que foi atualizado pelo autor) e um resumo da trajetória de Masahumi Segawa que, em janeiro completou 100 anos de idade.
Masayuki Mizuno: jornalista, pesquisador e poeta premiado
Masayuki Mizuno nasceu em 1924, na cidade de Nagoya, província de Aichi e tem 96 anos. A vinda ao Brasil ocorreu no ano 8 da era Showa (1933), com 8 anos de idade. Assentado em lavoura de algodão em Valparaíso da linha Noroeste, como a família era pequena, foi logo lançado para o trabalho braçal. E, portanto, só estudou até o segundo ano do ensino fundamental. Mesmo menino tinha calos nas duas mãos provocados pelo cabo de enxada.
Em pouco tempo, a situação mundial se altera e começa a Guerra do Pacífico. Por causa da influência de revistas juvenis do Japão, ele era um jovem com mentalidade militar e acreditou na vitória do pós-guerra, passando a sonhar com o retorno. Pegando emprestadas apostilas de aulas do ensino fundamental e médio de Waseda de alguns conhecidos, passou a estudar fervorosamente como autodidata à luz de candelas até altas horas da noite. Com a derrota do Japão, ele viu seus sonhos se esvaindo e foi preciso criar novos planos. Saiu de casa para aprender português e rumou para a grande cidade de São Paulo. A procura de emprego foi difícil, a grande metrópole era rigorosa para quem não tinha bom entendimento da língua portuguesa. Indo nesta direção ficou sabendo que o Jornal Paulista de língua japonesa, que começou a ser publicado, oferecia vaga de repórter. Houve 37 candidatos e foram selecionados dois. Por felicidade, Masayuki foi um deles e passou a trabalhar na redação.
Após quase um ano, tornou-se repórter do departamento social. Era o destaque da página três. Até havia motivação, mas passou a pensar no futuro dos jornais japoneses. Como também havia conflitos internos, demitiu-se do Jornal Paulista e, com um companheiro, fundou o Diário Nippak, onde atuou como repórter da área social responsável pela página três. Como era muito destacado e havendo convites externos, demitiu-se.
Ele era amigo do diretor da Fiação de Seda Bratac, senhor Haruichi Sakita, que lhe deu a oportunidade de escrever e publicar o livro História de 25 Anos de Bastos, que mais tarde se tornou um livro histórico muito importante para a colônia japonesa. Por causa desta publicação, foi contratado pela Câmara de Comércio do Japão em São Paulo, e tornou-se responsável pela sua publicação periódica. Pela Câmara, foi enviado ao Japão para a publicação do Anuário Econômico de 1957, para incentivar o investimento de empresas japonesas no Brasil.
No retorno ao Brasil, tomou outro rumo, estava cansado de servir a outras pessoas e foi atrás de independência, decidiu abrir seu próprio negócio adquirindo uma granja na periferia de Atibaia, iniciando a criação de 50 mil galinhas para produção de ovos e 2500 cabeças de gado suíno. Após alguns anos, ele deixou esse ramo e optou por investir suas economias. Sem atividades, e com o objetivo de servir à comunidade local, passou a realizar pesquisa, redação e edição do livro comemorativo do cinquentenário do Bunkyo Atibaia.
Atualmente, gosta de se ocupar com literatura e leitura, deixando-se levar pelo tempo ocioso fazendo a mente elaborar. Neste tempo foi premiado seis vezes pelo Prêmio Literário Takemoto. Ele é o único que conseguiu ganhar duas vezes em três quesitos diferentes (prosa, haiku e tanka).
Masahumi Segawa: Bunkyo, um projeto adequado para o momento
“Foi constituída em 1955, o Bunkyo enquanto entidade central da Colônia”, escreveu Masahumi Segawa (na foto com a esposa Yurie), em 10 de junho de 2020, em depoimento sobre sua participação na fundação do Bunkyo, publicado na edição 143 da revista Bunkyo News Colonia.
“Na época, morava em São Paulo e trabalhava no Banco América do Sul”, continua, “considerei o projeto muito apropriado para o momento, e aceitei ser membro fundador”. Posteriormente, em 1993, fez parte do Conselho Fiscal, e em 1995, atuou como membro efetivo do Conselho Deliberativo.
Reconhecido como “muito inteligente” (qualidade ressaltada por Masayuki Mizuno que conviveu com ele em Bastos), Masahumi Segawa, em 2020, foi um dos 27 homenageados Hakujusha do Bunkyo (homenagem às pessoas de 99 anos de idade ou mais).
Na década de 1970, com o Banco América do Sul em plena expansão, foi considerado um dos “Golden boys” – funcionários de destaque com qualidades reconhecidas para ocupar cargos diretivos.
Masahumi Segawa, aos 18 anos de idade, deixou a terra natal (província de Nagano) e mudou-se para os Estados Unidos. Em 1940, trabalhava como bancário (filial de banco japonês), em Nova York, quando soube do possível bombardeio à base naval norte-americana Pearl Harbour pelas forças japonesas (ação que desencadeou o início da Segunda Guerra).
Chegou ao Brasil em 1941, aos 21 anos de idade, e foi trabalhar em Bastos (SP), na Fiação Bratac. Em 1955, na época da fundação do Bunkyo, era funcionário do Banco América do Sul e atuava na agência da região do Mercado Municipal de São Paulo.
Segawa aposentou-se no final de década de 1980: de gerente ascendeu ao cargo de diretor do Banco de Investimentos do BASUL. Sempre afeito aos números, acompanha por meio dos jornais o andamento de sua carteira de investimentos. Considera-se um “investidor conservador”, e busca as informações sobre a performance das ações por meio do “Estadão” (que lê diariamente), e às vezes, pelo “Valor Econômico”, via internet.
Seu filho, Hugo Segawa, professor da FAU (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo), conta que o pai, que dirigiu carro até aos 92 anos de idade, até 6 ou 7 anos atrás comparecia à cerimônia do Ano Novo realizado no Bunkyo. “Deixou de ir já que não conhecia mais ninguém”, justifica Hugo.
Mas, recentemente, foi convidado para a reunião anual de Ano Novo na Associação Naguisa de Cultura e Beneficência, entidade que congrega ex-funcionário do antigo Banco América do Sul.
Hugo afirma que, tanto pai como filho, ficaram muito felizes com a calorosa recepção. “Foi um reencontro de velhos conhecidos, não somente de antigos funcionários do Banco, como de outras empresas nikkeis”, relata, “e muitos ressaltaram e manifestaram gratidão pelo papel de professor de meu pai que sempre atuou com comércio exterior e no setor de câmbio”. Ouviram deles: “Segawa-san, aprendemos muito com o senhor”.