Homenagem à Harumi Goya e Tuyoci Ohara

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Foi publicada no dia 2 de julho de 2025 no jornal Brasil Nippou, uma mensagem da diretora do Bunkyo, Madoka Hayashi “in memorian” à Sra. Harumi Arashiro Goya e ao Dr. Tuyoci Ohara. Com texto original em japonês, a tradução em português por Chika Ebisawa foi disponibilizada logo abaixo:

Saudação da presidente Harumi A. Goya durante cerimônia comemorativa aos 110 anos da imigração japonesa em 21 de julho 2018.

Falecida em 20 de junho, Harumi Arashiro Goya, ex-presidente do Bunkyo (gestão de 2015/2019), tinha 72 anos de idade e era casada com Milton Goya. Entre outras realizações, Harumi foi a primeira mulher a ocupar a presidência da ABJICA (Associação dos Ex-Bolsistas da JICA) e também, em 60 anos de história do Bunkyo, foi a primeira a mulher a quebrar a sequência de presidentes (de 2015 a 2018).

Tuyoci Ohara durante reunião da Comissão Eleitoral do Bunkyo, ocasião em que foi eleita a presidente Harumi A. Goya (24 de fevereiro 2015).

Falecido em 23 de junho, o Dr. Tuyoci Ohara, advogado e tradutor juramentado, aos 89 anos. Viúvo, deixou os filhos Roberto Takashi Ohara e Gilberto Kiyoshi Ohara. No Bunkyo, Dr. Ohara teve importante participação na condução e aconselhamento das questões jurídicas, e entre outros assuntos, orientando a elaboração da reforma do estatuto social da entidade de acordo com as normas atuais do Código Civil (em 2015 e 2023). Também foi presidente do Conselho Deliberativo na gestão de Kokei Uehara (2003/2006) e de Kihatiro Kita (2009/2011).

Foi presidente do Conselho Deliberativo da Sociedade de Beneficência Nipo-Brasileira de São Paulo (Enkyo) e também Presidente do Conselho Deliberativo do Instituto de Direito Comparado Brasil-Japão. Atualmente, era membro do Conselho Fiscal Efetivo do Ikoi-no-sono.


 Reverências à memória de Harumi-san e Dr. Ohara (1)

(1)Texto de autoria de Madoka Hayashi (Soen), diretora do Bunkyo, publicado no jornal Brasil Nippou, edição de 2 de julho de 2025. Tradução para português de Chika Ebisawa.

Há uma célebre frase de Paul Gauguin que também dá nome a uma de suas obras-primas, pintada entre 1897 e 1898, durante sua estadia na ilha de Taiti, no sul do Pacífico: “De onde viemos? O que somos? Para onde vamos?” — uma reflexão profunda sobre a existência e o sentido da vida.

Neste mês de junho, duas estrelas do Bunkyo nos deixaram: a Sra. Harumi Goya Arashiro (in memoriam) e o Sr. Tsuyoci Ohara (in memoriam).

Tendo estado próxima a ambos, dedico estas humildes palavras em memória dos dois, em sinal de luto e desejo que suas almas encontrem descanso eterno. Compartilho aqui suas lembranças, como um tributo de respeito e de paz.

Primeiramente, sobre a saudosa Sra. Harumi Goya Arashiro: em 2015, ela foi eleita como a 12ª presidente do Bunkyo, sendo a primeira mulher a ocupar esse cargo. Funcionária de alto escalão da Secretaria da Fazenda do Estado de São Paulo, ela se aposentou em outubro do ano anterior e, já então, se preparava para assumir a presidência da entidade. Fui convidada a colaborar e atuei como a terceira vice-presidente do Bunkyo.

Harumi-san era uma pessoa de forte senso de justiça e tinha um olhar muito sensível para a cultura e estética. Lembro que, quando realizamos juntos um desfile de quimonos, ela foi bastante exigente nos detalhes. O momento mais marcante de sua gestão foi, sem dúvida, a cerimônia comemorativa dos 110 anos da imigração japonesa no Brasil, em 2018, ocasião em que recebemos a visita de Sua Alteza Imperial, a Princesa Mako. Harumi-san atuou como presidente da comissão de cerimônia, ao lado do Sr. Yoshiharu Kikuchi, presidente da comissão executiva, e ambos contribuíram significativamente para o sucesso do evento.

Ser presidente do Bunkyo exige não só tempo, como também recursos financeiros. No Livro de Ouro criado naquela época, constam os nomes de grandes doadores, incluindo a própria Sra. Harumi Goya, o Sr. Tsuyoci Ohara e o atual presidente do Bunkyo, Sr. Roberto Nishio, que era, na época, presidente da Fundação Kunito Miyasaka.

Harumi-san não foi uma presidente apenas no nome — ela ia todos os dias à sala da presidência e acompanhava de perto os assuntos da entidade. Durante sua gestão, quem também esteve sempre presente foi o então primeiro vice-presidente, Sr. Osamu Matsuo. O cargo de presidente é voluntário e demanda muito tempo e investimento pessoal. Por isso, embora muitos tenham interesse, geralmente poucos estão dispostos a assumir tal responsabilidade.

Em maio deste ano, ao retornar de uma viagem e ser informada sobre o estado de saúde da Harumi-san, hesitei bastante, mas decidi visitá-la. Eu queria muito vê-la, pois ela havia lutado por tanto tempo com coragem. No quarto do hospital, estava ao seu lado seu amado esposo, o Sr. Milton. Ela me disse várias vezes: “Não conte para ninguém que estou no hospital.”

Talvez essa frase reflita o orgulho e a dignidade que sempre a acompanharam. Na cerimônia da visita da Sua Alteza Imperial, a Princesa Kako deste ano, onde ela deveria estar presente no palco, Harumi-san não estava mais lá. Três semanas após minha visita, ela nos deixou.

Jamais esquecerei a expressão serena de Harumi-san naquele nosso último encontro. Talvez ela sentisse que sua missão havia chegado ao fim.

Ela foi sepultada tranquilamente em Ourinhos, onde vivem alguns de seus familiares.

Descanse em paz, Harumi-san. Você foi uma pessoa grandiosa.

Com minhas mais sinceras orações.

O saudoso Dr. Tsuyoci Ohara atuou por muitos anos como advogado consultor do Consulado Geral do Japão. Além disso, colaborou com inúmeras instituições da comunidade nipo-brasileira, como o Bunkyo, a Associação da Província de Shiga, a Furusato Sōsei-kai, a Sociedade Beneficente Casa de Repouso de São Paulo, o Museu Histórico da Imigração Japonesa no Brasil e o Centro de Estudos Nipo-Brasileiros, entre outros. Sua personalidade gentil e sua notável competência como advogado lhe renderam o respeito e a admiração de muitos.

Tive a honra de contar com sua colaboração por longos anos. Ele também foi dirigente da Tankokai da Urasenke, demonstrando seu apreço profundo pelas tradições culturais japonesas. Ao lado de sua esposa, a saudosa Sra. Taeko, formavam um casal muito unido. A partida prematura da Sra. Taeko certamente deixou um grande vazio, e imagino o quanto ele deve ter sentido sua ausência.

Taeko-san era uma mulher japonesa rara, exemplo de boa esposa e mãe dedicada — uma verdadeira “yamato nadeshiko” (2). No funeral do Dr. Ohara, muitos vieram prestar suas últimas homenagens, demonstrando o carinho e o respeito que tinham por ele. Mesmo após o falecimento, seu semblante refletia dignidade e serenidade. Sua mãe viveu quase até os cem anos, e por isso, desejávamos que ele também tivesse permanecido conosco por mais tempo.

“Sob a magnólia em plena floração,
despede-se um amigo querido”.

— Yumean

Ao testemunhar de perto a partida dessas duas grandes figuras, refleti profundamente.

O que é morrer? O que é viver?

As palavras de Gauguin, mencionadas no início, vieram-me à mente.

Perder duas pessoas tão grandiosas da Sociedade Brasileira de Cultura Japonesa e de Assistência Social me deixou com um sentimento de vazio e saudade.

E mais uma vez, me vi confrontada com o sentido da vida.

(2) Expressão usada para ressaltar a delicadeza da tradicional mulher japonesa

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