Faleceu, no último dia 9 de novembro, em Porto Alegre (RS), aos 99 anos de idade, o Prof. Dr. Yukio Moriguchi, reconhecido como “pai da geriatria” da América Latina.
Uma incrível coincidência – seu falecimento ocorreu no mesmo dia em que cerca de 3,5 milhões de alunos fizeram o exame do ENEM (Exame Nacional de Ensino Médio) que adotou como tema de redação “Perspectivas acerca do envelhecimento na sociedade brasileira”.
Prof. Dr. Yukio Moriguchi, nascido em 1926, formou-se em Medicina pela Keio University (Tóquio – Japão) em 1948, e concluiu seu doutorado pela Universidade de Milão (Itália) em 1957. Na década de 1960 foi conselheiro médico do Papa Paulo VI e também professor de geriatria da Universidade de Seisen (Tóquio – Japão) e diretor médico do Hospital Sakuramachi (Tóquio – Japão).
Veio ao Brasil em 1971 e se radicou em Porto Alegre (RS) onde revalidou o seu diploma de médico na UFRGS (1971 – 1973). Em novembro de 1973, fundou o Instituto de Geriatria e Gerontologia (IGG) na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC/RS), sendo pioneiro na implantação de disciplina de Geriatria em uma Escola de Medicina na América Latina.
Permaneceu no IGG como diretor até 2005 e como professor até 2015, quando se aposentou aos 89 anos. Foi pesquisador principal em estudos do envelhecimento da Organização Mundial da Saúde. Sua personalidade combinava disciplina, rigor acadêmico e profundo humanismo — características que marcaram sua atuação como professor, pesquisador e médico.
Dr. Moriguchi era natural de Tóquio – Japão, mas dedicou-se de corpo e alma à sua adoção do Brasil como lar. Casado com Lia Moriguchi, há 68 anos, construiu uma vida pautada pelo amor, respeito e fé. Junto com ela, foi colaborador da Rádio Aliança e do Jornal O Solidário. Foi um dos fundadores da Associação dos Médicos Católicos (AMEC) de Porto Alegre.
Velório e Cerimônia Religiosa
Yukio Moriguchi deixa quatro filhos, nove netos e quatro bisnetos, que seguem seus ensinamentos de ética, disciplina e fé. O Velório será realizado no dia 10 de novembro a partir das 15h no Cemitério Ecumênico João XXIII – Capela 9 (Av. Natal, 60 – Medianeira, Porto Alegre/RS) e a cerimônia religiosa no dia 11 de novembro às 14h seguida do sepultamento.
Sua partida deixa um legado inestimável no campo da geriatria e gerontologia no Brasil, na América Latina e nos países africanos de língua portuguesa.
Por seus serviços e pioneirismos, recebeu diversas honrarias, entre elas a Medalha de Serviço Humanitário concedida pelo Imperador do Japão em 2002. Sua história também foi tema de livro: Yukio Moriguchi: Segredos de longevidade e fé do pai da geriatria na América Latina.
Moriguchi será lembrado não apenas por suas inovações na geriatria, mas também pelo seu compromisso com a formação de futuros profissionais de saúde, que continuarão a disseminar seus ensinamentos e valores.
Além de sua influência acadêmica, atuou em serviços médicos associados à comunidade nipo-brasileira e incentivou a pesquisa em longevidade nas colônias de imigrantes japoneses no Rio Grande do Sul.
Legado familiar na assistência e apoio aos imigrantes japoneses
Família Moriguchi foi manchete em 2024 durante a enchente que assolou o Rio Grande do Sul e deixou sem condições de uso a sede do EnkyoSul – Associação de Assistência Nipo e Brasileira do Sul.
Fundado em 1971 com a finalidade de prestar assistência médica às famílias descendentes de japoneses residentes no Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Atualmente é reconhecida como entidade beneficente assistencial atendendo à sociedade em geral e não apenas à comunidade nipo-brasileira.
A organização dessa entidade é resultante da atuação de Dr. Shizuo Hossoe que chegou ao Brasil na década de 1930, enviado pelo governo japonês para prestar assistência médica aos imigrantes japoneses. Quem conta sobre essa trajetória é o Dr. Emílio Hideyuki Moriguchi, neto do Dr. Hossoe, filho do Prof. Dr. Yukio Moriguchi e atual diretor do Enkyosul,.
Conta que seu avô, Dr. Shizuo Hossoe, “rodava o Brasil inteiro, de jipe, atendendo as colônias agrícolas, desde a Amazônia até o Rio Grande do Sul”. Na região Sul, os imigrantes japoneses chegaram a partir das décadas de 1950-60 e, portanto, demandavam mais atenção médica prestada em língua japonesa. “Foi então que meu avô, já sexagenário, chamou meu pai do Japão, Dr. Yukio Moriguchi, para dar continuidade ao seu trabalho”.
Assim, a família Moriguchi chegou ao Brasil em 1967 e já foi incluída nas atividades do Dr. Hossoe, que foram institucionalizadas em 1971, com a fundação do Enkyosul, em Porto Alegre (POA).
Mais tarde, ao completar 80 anos de idade, foi a vez do Dr. Yukio passar essa missão ao seu filho, Dr. Emílio Hideyuki Moriguchi que, desde a época de estudante de Medicina, já acompanhava as atividades.
Mantido por famílias nipo-brasileiras residentes nas cidades dos estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina, o Enkyosul presta atendimento médico em sua sede e, periodicamente, realiza caravanas médicas nas cidades do interior (as tradicionais Junkai Shinryo), realizando exames diagnósticos, consultas e orientações médicas.
A exemplo do que ocorria nos núcleos coloniais, o Enkyosul dispunha instalações em sua sede para hospedar pacientes com doenças graves, residentes do interior, para realização de exames de diagnóstico e tratamento.
Atualmente, o Enkyosul também se transformou num significativo centro da comunidade nipo-brasileiras, sediando diversas atividades culturais destinadas a todas as faixas etárias.
Em 2024, logo após as enchentes, em conjunto com o Bunkyo, foi lançada a campanha “Gambatchê” para arrecadar recursos para a compra de uma nova sede. Com a iniciativa bem-sucedida, na sequência foi lançada a rifa solidária para obter recursos para aquisição de equipamentos e adequação das instalações. O sorteio será no próximo dia 21 de novembro, pela Loteria Federal, tendo como 1º prêmio um automóvel Hyundai.
